quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Voto consciente





Era perto de meio dia quando encontrei minha sessão e sua fila não tão grande assim. Enquanto lamentava o calor absurdo que estava fazendo, um senhor moreno de camisa amarrotada se aproximou e acomodou-se um lugar a frente do meu na fila enquanto explicava como havia errado a sessão e a fila. O caso é que o deixei permanecer ali, foram longos cinco minutos o escutando falar emboladamente a mesma historia, como havia errado a sessão, a fila e como já havia estado naquela fila antes e perderá seu lugar (algo desnecessário de fazer, já que ele já havia conseguido um lugar no meio da fila, o meu por sinal). Uma santa alma ao escutar e reconhecer a voz do senhor disse: - O senhor estava na minha frente venha... A partir desse momento todos da fila da sessão 266 já sabiam da historia daquele senhor e deduziram o quão preparado ele estava pra exercer seu direito de cidadão já que no percurso de uma posição na fila para outra deixou cair inúmeros daqueles santinhos que só fazem promessas ao invés de cumpri-las.


Eu aguardava a minha vez quando um choro de uma criança de uns seis anos de idade acordou a todos que estavam em estado de sonambulismo. Os berros do menino eram consequência da notícia que um dos mesários acabava de dar a sua mãe, dizendo que o menino não poderia ir votar junto com ela, achei incrível como uma criança de seis anos, apenas seis anos parecia ser tão politizada e consciente de que é direito dela escolher aquele que lhe dará uma escola melhor, uma condição de saúde melhor ou ao menos se preocupará com o aquecimento global e suas consequências. O choro do menino não era um choro de manhã mas um choro de lamento já que as suas esperanças de um mundo melhor haviam ido embora no momento em que foi impedido de entrar com a mãe na sala. Após ser levado pelos com o consolo de que quando fosse maior poderia fazer isso chegou a vez do senhor de fala embolada votar.


Ao entrar na sala ele entregou seus documentos à mesária, que os conferiu e o encaminhou até a urna (aquela maquininha responsável por contabilizar as nossas decisões), quando ele sentou na cadeira e antes mesmo de digitar sequer o botão branco se levantou para perguntar a mesária como fazia, não me contive e dei uma risada, sutilmente mas uma risada, o que levou todos da fila a olhares pelos mesmos combrogos que eu observava. A mesária tirou as dúvidas do cidadão e o mandou voltar, ele fez a sua primeira escolha digitando um número a cada 10 segundos, ao confirmar quando todos escutaram aquele barulhinho, ele tornou a levantar e ir até a mesária novamente tirar dúvidas. A cena do lado de fora da sala se repetiu mas dessa vez eu não acompanhava sozinha e todos da fila que estavam observando riram juntos formando um coral. Ele retornou e fez suas outras escolhas conferindo como no jogo do bingo número a número que estava nos santinhos, quando pensávamos que ele havia concluído tudo e estava de saída para que nós os demais pudéssemos votar a mesária o chama. Ele havia simplesmente esquecido de votar no presidente, novamente ele retorna a cadeira e nós novamente e formamos um coral de risos. O nosso amigo da fala embolada deve ter sido mais aplaudido ao final da votação do que os próprios candidatos quando votaram.


Agora sim escutamos o sexto e ultimo barulhinho da democracia consciente. Fiquei a pensar quantos cidadãos não votaram na mesma condição que esse, se não pelo álcool, mas pela embriaguez causada pela falta de consciência politica.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pretenções






Tenho estado sem ter o que dizer a um bom tempo. Os pensamentos são muitos, cada um imenso e confuso na sua medida exagerada. Tenho me tornado mais linear e na medida que me aproximo cada vez mais do que é real, fico constantemente mais instável. Tenho me assustado com isso também.